Hoje levei um "ralhete" da minha
prima Rute. Diz que tem vindo cá todos os dias e as receitas estão paradas. Ela
é fã do meu tempero, o que me lisonjeia muito. Depois do "ralhete", vim para casa
a correr vasculhar as receitas em lista de espera.
Enquanto vinha no caminho pus-me
a pensar em como a família é importante. Manter perto de nós as pessoas que se
encaixam bem em nós, é tão importante como um comprimido para a cabeça, quando
ela nos dói.
Tenho no meu baú das recordações de
infância momentos muitos bons, passados com a prima Rute e o meu primo Tiago. Momentos
que os adultos teimam em quebrar porque não sabem aproveitar a vida e ser
felizes como as crianças. Como as crianças que nós éramos. E éramos tantos
primos, tantos que fiz uma pausa para contá-los e somos 17.
Cada um foi seguindo as suas vidas,
fez as suas escolhas e depois tudo se perdeu, até um dia um telefonema a
desejar bom natal aos meus avós paternos e ela estava lá. Tenho na memória que
ela é que pediu para falar comigo, trocámos contactos e até hoje não nos largámos
mais.
Deixámos de lado as quezílias dos
adultos, aqueles mais adultos que nós somos agora. Quando falo com ela,
sinto-me ainda aquela criança feliz e rodeada pelos primos, sem as complicações
dos crescidos. E se os adultos soubessem o quanto é importante esta relação
entre primos, talvez não quebrassem a corrente da vida, que era termos crescido
juntos mais um pouco. Porque foi tão boa a minha infância, tão cheia de gente,
de vida, de falta de luxo mas com amor a sobejar.
A minha prima Rute trouxe-me
esses momentos outra vez.
Acho que já falámos de tanta
coisa, que nada ficará por dizer se uma de nós hoje desaparecer.
Afinal ela lembra-se de coisas
que no meu baú não guardei, e eu recordei-a de outras, que ela já tinha esquecido.
Ao longo dos anos fomos construindo pouco a pouco, a relação que ficou
interrompida. E é tão bom ter a minha prima Rute por perto. É tão bom ela saber
do que falo, ela compreender aquilo que sinto. Ela lembra-me a minha irmã.
Lembro-me como se fosse hoje,
quando em miúda fui passar um fim-de-semana a casa dela. Lembro-me da alegria
contagiante, dela a tocar tão bem órgão, do meu primo Tiago, o mais novo dos
primos, de cabelo irrequieto e o seu ar traquinas, que ainda hoje quando penso
nele vem-me à memória uma personagem do “Verão Azul”, que a malta da minha
geração se lembrará de certeza, da minha tia na pequena cozinha mas tão cheia
de amor maternal a preparar um saco cheio com pão e a fazer sandes de fiambre
com manteiga, para irmos todos para a praia. Apanhei um escaldão nesse dia, até
com herpes solar fiquei, mas nunca mais me esqueci desses momentos, que
acompanham a nossa vida para sempre e nos tornam as pessoas cheias que somos
hoje. Apetecia-me tanto perguntar à minha tia: Então tia ´tás boa? Lembras-te de mim?, ou ao meu primo Tiago: Olá primo, sabes que foste o último dos primos, mas o primeiro dos desta banda também lhe dei o nome de Tiago? Continuas reguila? Sei que gostas de motas, proteges muito os animais, que és um tio espetacular e gostas da playmobil..., ao meu tio: Tio, sabias que eu também tive um mini amarelo como os teus? E tu prima sabes que és o único elo que me sobrou desse lado, mas que me vale por muitos? Sei que fazes a mesma pergunta que eu: Porquê? Porquê os crescidos estragam sempre tudo, quando a vida nos dá uma família tão grande. Porquê, com o passar dos anos, a mesa de natal fica sempre mais pequena?
A receita de hoje é para os meus primos. Eu sei, eu sei, é uma receita tão simples... Mas, se hoje eu recebesse a visita deles, haveria muitos abraços para trocar, muita conversa para pôr em dia, muitas recordações para relembrar, e eu não teria tempo de fazer um jantar elaborado. Só me restava pôr um frango bem grande no forno, um tempero simples, mas mesmo assim especial e batatas fritas de pacote a acompanhar. Porque a puta da vida é para aproveitar bem e não perder tempo com mesquinhices. A vida é bela! (desculpem a asneira, saiu-me).
Ingredientes para 4 a 6 pessoas:
- 1 frango grande
- 3 dentes de alhos espremidos com utensílio próprio ou bem picados com a faca
- 1 colher de sopa (bem cheia) de mostarda
- 1 colher de sobremesa de paprika
- 1 colher de sobremesa de sal grosso
- 1 colher de café de pimenta preta moída
- 1 colher de café de coentros moídos (em pó)
- 2 colheres de sopa de azeite
Preparação:
Misturar bem todos os ingredientes, à exceção do frango, até ficar uma pasta. Massajar todo o frango com a pasta e deixar a marinar de um dia para o outro, ou cerca de duas horas.
Levar ao forno pré-aquecido a 200º, tapado com papel de alumínio, aproximadamente 1:45 a 2 horas (se o frango for muito grande). Retirar o papel de alumínio a meia hora do tempo terminar para alourar a parte de cima. Acompanhar com arroz, batatas fritas, legumes cozidos ou salteados, saladas variadas, ou mesmo batata frita de pacote, para dias descomplicados. Bom fim de semana e pensem na vida!