Enquanto escrevo em tempo real, o meu coração bate tanto que acho que vai sair de dentro de mim a saltitar, e vejo-me pateticamente a correr atrás dele e a refilar para que ele volte para dentro de mim e sossegue. Sossega amigo, são as duas palavras que mais lhe digo, como se o meu coração fosse uma pessoa à parte que vive cá dentro de mim, aliás, somos três e vivemos apertados o tempo todo. Eu, o coração e a alma, como se cada um tivesse vontade própria no meu corpo.
Um telefonema. É só o que aguardo. Ao contrário dos dias comuns, o telefone hoje não sai de perto de mim. Ouço-o a tocar sem ele tocar, sinto-o vibrar sem ele vibrar de tal que está o nível da minha inquietação. Toca telefone e diz-me que o meu amor pequeno de 4 patas não tem aquela doença. Terei que morrer outra vez um bocadinho todos os dias para aguentar mais uma perda. Não estou preparada. Nunca estive preparada para a perda. Finjo ser forte todos os dias. Tornei-me fria. Insensível. Mas é tudo mentira. Por baixo desta rocha ainda mora a menina pequena que durante anos sonhou com um grande terramoto e era a única sobrevivente à procura dos irmãos e dos pais no meio dos escombros. Durante anos não percebi o porquê do mesmo sonho vezes e vezes sem conta. Agora percebo. O medo da perda. Pois é, afinal os outros recebem de mim o melhor que tenho para dar, mas a verdade é que me esqueci de pedir apoio aos outros para que eu pudesse também crescer em equilíbrio e agora o meu coração manifesta-se como pode. Inquieta-se e eu já não o consigo controlar.
Hoje é isto que eu tenho para dizer ao mundo, isto para fazer companhia a umas almôndegas simples sem grandes adornos ou cor.