Ontem foi mais um dia de superar medos. Sair de casa sozinha antes do sol nascer trás-me más recordações de infância. Ainda hoje sonho que o estou a esfaquear até à morte, como se fosse uma vontade que escondi anos a fio por ter assustado a criança inocente que era.
Não gosto de me sentir vulnerável. Decidida lá fui eu experimentar uma aula de yoga na praia ao nascer do sol. Temi. Temi como sempre, apesar de ser mulher feita, nesses dias torno-me na criança que alguém fez mal.
Calcei os ténis, porque com eles fujo melhor se precisar, caminhei até ao carro às escuras, porque mais uma vez não havia luzes no meu bairro. Tranquei-me no carro e liguei o rádio na minha estação preferida. Até chegar à praia combinada ele perseguiu-me na minha mente. Respirei, quase que não contive as lágrimas. Depois ataque de pânico, voltei a respirar fundo. Controla-te Carla dizia a mim própria. Cheguei ao destino. Respirei de alivio.
Vi o sol nascer. Finalmente. Ali diante dos meus olhos o sol a espreguiçar-se devagarinho e a iluminar o meu dia.
Nunca mais vou deixar esta memória má dentro de mim. Nunca mais. Morreu ontem.