Estava aqui a pensar com os meus botões no "piolho encardido" e nisto do que é ser mãe. Foi difícil tê-lo. Senti-me sozinha muitas das vezes, talvez porque fosse difícil falar sobre isso com quem quer que fosse. Fechei-me e praticamente lutei por ele em silêncio durante uma mão cheia de anos. Aquele silêncio que grita e ninguém nos ouve.
Fiz dezenas de exames e testes de gravidez, dezenas, mas sempre com a esperança que um dia iria ver dois tracinhos avermelhados. Esse dia chegou para mim quando menos esperei. Foi estranho, tão estranho que senti-me numa espécie de medo ainda maior. Era tão maior o medo de o perder, que a minha felicidade por finalmente tê-lo a crescer dentro de mim. Depois de tomada a realidade, foi tempo de cuidar de nós. Medicação, pensamento positivo, e uma vida perfeitamente normal, levaram a minha gravidez a bom termo. E antes do tempo nasceu um franguinho pequeno que vestia roupa de prematuro.
Fui mãe assim que ele foi filho. Fui crescendo e aprendendo como o ser da melhor forma. Não há regras, eu criei as minhas, e a minha regra é fazê-lo voar e não condiciona-lo a nada, por muito que me doa o peito.
Esperei por ele tanto tempo, que o tanto foi tão pouco, para tão grande sorte que tive. Um puto feliz, saudável, inteligente, tão reguila e bem humorado que me faz levantar todos os dias da cama, mesmo que o meu dia esteja cinzento.
Recordo quando nos chamava de mamã e papá. Depois entrou na escola e pediu-nos para já não nos tratar assim. Foi este o primeiro dos desgostos que me deu. Havia dias em casa que eu fingia não ouvir quando me chamava de mãe. Eu não era a mãe e sim a mamã. Estava na hora de aceitar o seu crescimento e a partir daí tudo foi tão fácil para mim.
Hoje deixei-o, como sempre, longe do portão da escola, e não me sinto triste por isso, nem preciso mais de fazer artimanhas no caso dele olhar para trás a ver se eu ainda lá estou na esquina a espreitar, fingir que estou ao telemovel com alguém e de óculos escuros para ele não perceber que é para ele que os meus olhos fixam. Às vezes farto-me de rir com tanta figura parva que já fiz.
Foi hora de o libertar. A ele e à sua tonta mãe. Serei sempre melhor mãe se não o prender, tal como a minha nunca o fez. E foi para ela que eu sempre voltei quando precisei.
Ele cresceu, tem 10 anos, e eu 10 anos de ser mãe. Parece-me mais do que suficiente para levar isto com uma perna às costas.
Ele já sente o que é gostar de alguém. Uma menina que lhe roubou o coração e me roubou a mim as cartas de amor que ele escrevia. Afinal era para ela a carta que escrevia embevecido num destes dias e eu tonta a achar que era para mim.
Parece-me que tenho um longo caminho de desgostos. Desgostos que vou digerindo rapidamente e preparando-me sempre para o próximo. Porque vão sempre doer.
Tenho as minhas armas, e sei que ele também deve ficar a pensar quando eu digo ao pai que depois quando ele crescer compramos a auto-caravana e vamos os dois correr o mundo. O mundo que afinal ele ainda quer estar, o nosso mundo. É tão bom ser mãe desde puto!