quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Sopa de frango e legumes

Estava aqui a pensar com os meus botões naquela frase que faz muito sentido em todos nós. Que só damos valor às coisas ou pessoas quando as perdemos. Isto a propósito de ser uma pessoa bastante arrumada lá em casa. Durante anos não saí de casa sem arrumar tudo primeiro, tirando uma coisa ou outra que não posso fazer por algum motivo, mal eu acordo faço a inspeção matinal a tudo. Sou demasiado arrumada, mas para bem da minha sanidade mental gosto de o ser. Gosto de ter tudo no lugar, e mesmo que não limpe o pó semanal, tudo o resto tem de estar sempre impecável. E olhem que lá por casa já vi com estes olhinhos muita coisa estranha, assim só para resumir: cascas de banana dentro da gaveta da roupa interior; cachos de uvas debaixo do sofá; frigorífico ou congelador completamente abertos durante a noite; manteiga literalmente pendurada nos azulejos da cozinha, e tantas outras pérolas que o dia não chegava para vos contar. Arrumo, limpo e raramente reclamo, muito raramente mesmo. Até porque acabo por me rir sozinha destes achados diários destes meus dois amores. E não vale a pena perder tempo com isso, que não seja arrumar e pronto. Da mesma forma que eu espero que contornem os meus defeitos, que os tenho e muitos, sem grandes alaridos e reclamações. Mas no dia que eu saí de casa à pressa, e só tinha duas opções, ou chegava atrasada ao meu destino ou deixava a casa imaculada como sempre, escolhi a primeira e nesse dia notaram efetivamente e em tom estranho fizeram reparo. E eu a pensar que nem davam por mim por ser tão arrumada e que o que faço diariamente passava despercebido e afinal... Isto fez-me lembrar aquele filme do David Linch que vi há anos, sobre um velhote que partiu no seu trator em viagem, decidido a procurar a irmã que há anos estavam zangados, e quando chega ao destino depois de algumas peripécias, recebeu a triste notícia que ela tinha acabado de morrer. Pois é, às vezes é preciso medidas drásticas para acordarmos de vez para a dura realidade que é, não darmos valor às pessoas enquanto elas estão connosco. Um dia pode tudo mudar e já não irmos a tempo de remediar o que muitas vezes pensamos que já não tem remédio, quando só a morte determina mesmo o fim de tudo.
Com isto tudo até me esqueci de colocar a receita. Uma sopa muito aromática com um caldo que se faz sem pressas e que o tomate seco perfuma e se esconde no fim.

Ingredientes: 
- azeite q.b.
- 1 cebola grande picada
- 1 dente de alho picado
- 3 tomates secos ao sol picados (usei Espiga)
- cerca de 675g de frango (usei embalado para fricassé - resulta sempre melhor frango com osso)
- 1 colher de café de pimentão doce
- sal grosso q.b.
- 2,5 l de água
- 1 ramo de cheiros (coentros, salsa, louro, enrolados e presos com um fio numa folha de alho francês)
- 1 courgette grande (1/4 descascada e cortada aos cubos grosseiramente e a restante com a casca e cortada aos cubos)
- 1 nabo grande cortado aos cubos
- 1 cenoura grande cortada aos cubos
- 1/2 abóbora manteiga cortada aos cubos
- 1 mão cheia de massa cotovelos
- 1 mão cheia de folhas de espinafres

Preparação:
Numa panela grande colocar um fio de azeite e refogar levemente a cebola e o alho. Adicionar o tomate seco e deixar a apurar um pouco. De seguida adicionar à panela os pedaços de frango e dar uma corzinha de ambos os lados para largar mais sabor. Acrescentar o pimentão doce e temperar de sal. Adicionar a água, o ramo de cheiros e 1/4 da courgette que vai dar depois um pouco de "corpo" ao caldo.

Depois do frango cozido, retirar, deixar arrefecer um pouco, desfiar e reservar.
Retirar o ramo de cheiros e triturar bem o caldo com a varinha mágica.

Voltar a colocar a panela no lume e adicionar os legumes pela ordem do que demora mais tempo a cozer. Primeiro o nabo, depois a cenoura, depois a abóbora e por fim  a restante courgette mas desta vez com a casca para dar alguma cor ao prato.
(Os legumes poderão ser todos colocados ao mesmo tempo se os cortarem em tamanhos diferentes. Cortar os legumes que demoram mais a cozer em cubos mais pequenos e os outros em cubos maiores.)

Quando os legumes estiverem tenros mas ainda firmes e a ferver, colocar a massa que deve cozer até ficar "al dente",  e de seguida adicionar as folhas de espinafres que cozem em poucos minutos.

Desligar o lume, retificar o sal e servir quente. Bom apetite!

5 comentários:

  1. A minha mãe fazia uma sopinha assim mas com carne de porco! Coisa que eu adoro! Com frango nunca comi mas acredito que seja igualmente bom! Pois eu tenho o mesmo defeito! E também tenho muitas pérolas que davam um livro! Ao contrário de ti, eu reclamo! Reclamo muito! Mas só porque quero que eles sejam muito arrematados (porque de pequenino...) e penso que se reclamar consigo contribuir para que isso aconteça (embora nem sempre tenha sucesso)! Mas concordo plenamente contigo quando dizes que só damos importância quando perdemos algo ou alguém. E curiosamente tenho pensado muito nisso ultimamente. Tenho pensado naquilo que quero fazer e que não tenho coragem ou que não faço por falta de tempo. Tenho pensado que não posso adiar mais porque um dia pode ser tarde. E isso enerva-me tanto, não podermos ter o controlo das coisas...

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    1. Também costumo fazer com porco. Adoro sopas assim que por si só já são a refeição principal. Eu também reclamo por vezes, pois sei que é importante ensinar estas coisas. Tantas e tantas vezes digo ao "piolho" que um dia que ele for para longe estudar tem de ser organizado e arrumado, tantas vezes que eles ficam fartos de mim. Mas acho que até não reclamo muito comparado com tantas mulheres que ouço falar sobre este assunto. E força nisso que tens de fazer, arranja tempo e coragem e eu só te tenho a desejar boa sorte! beijinho e bom fim de semana.

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  2. Aqui em Londres nunca consigo comprar peixe que me encha as medidas, só tryua ou salmão e às vezes cavala e então frango é quase todos os dias, sorte a minha que adoro e que posso ver receitas como esta para ter sempre ideias variadas, adorei :D

    www.therasiathecook.blogspot.com

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    1. Nós por cá também comemos muito frango, mas tenho a sorte de poder encontrar grande variedade de peixe fresco. Pena é ser tão caro. beijinhos para Londres e volta sempre que queiras.

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  3. Estava realmente saborosa, mas não se pode ter pressa a fazê-la para assim o caldo ficar bem aromático. beijocas e bom fim de semana sem chuva, que é o que dizem por aí.

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